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Wellington Menezes de Oliveira era uma pessoa comum, até cometer o crime mais brutal da história do País. Não era traficante nem pertencia às milícias que dominam alguns morros cariocas, não frequentava grupos neonazistas e muito menos de radicais de esquerda. Não era um milionário entediado, ou um miserável revoltado. Não usava drogas nem tinha passagem pela polícia.

Também não era um fanático religioso,embora num primeiro momento alguns tenham tentado associá-lo a fundamentalistas. Nem fisicamente Wellington se destacava. Era apenas um tipo igual a tantos outros.

Antes de chocar o País com seus tiros, sabia-se apenas que era introvertido e, como disse a irmã, um pouco esquisito. Na manhã do último dia 7, quando esse jovem de 24 anos chegou à escola municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, inaugurou no Brasil uma
categoria brutal de crime já presente no noticiário internacional:os massacres em escolas, seguidos do suicídio. Wellington chegou ao local onde tinha estudado com duas armas e muita munição.

Com elas, matou 12 alunos e deixou outros 13 feridos. Até a segunda-feira (11), seis permaneciam internados. Todas as vítimas tinham idades entre 12 e 16 anos. As atividades na escola devem recomeçar na segunda-feira (18), mas o trauma e a perplexidade permanecem.

Wellington é descrito por conhecidos e familiares como um sujeito sem amigos, que passava muitas horas diante do computador.“Estranho, quieto e tranquilão” são adjetivos recorrentes.

Ele foi adotado ainda recém-nascido por uma família que já tinha quatro filhos e, segundo relatos de vizinhos da família, era muito apegado à mãe, que morreu em setembro passado.

Não demorou muito até que ele perdesse o emprego e tivesse seu já parco contato social reduzido ainda mais. O jovem raramente era visto pelas ruas e dedicava a maior parte do seu tempo a atividades na frente do computador, provavelmente o mesmo usado para escrever a carta encontrada com ele.

Nela, entre outras coisas, passagens confusas, ele dá instruções sobre seu enterro, sobre o que deve ser feito com a casa onde morava sozinho e demonstra zelo por cães e gatos.

Na carta, Wellington se descreve como “virgem”, diz que não pode ser tocado por impuros ou adúlteros e pede que um “fiel seguidor de Deus” rogue pelo seu perdão. Para psicanalistas, o teor da carta e as descrições feitas por conhecidos apontam para uma pessoa em surto psicótico. A investigação conduzida pela polícia fluminense segue o mesmo caminho, e tenta descobrir se Wellington já tinha passado por instituições psiquiátricas. “Tudo indica que ele sofria de uma psicose, muito provavelmente era esquizofrênico.

Nessas situações é muito comum que a pessoa crie um mundo paralelo e acredite tão intensamente nele que rompe com a realidade”, afirma o psicanalista forense Eduardo Henrique Teixeira, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas. Ele explica que a introversão atribuída ao jovem é diferente de uma timidez. “A introversão é um isolamento social,algo próprio de determinados transtornos”, pontua.

Esse isolamento também é resultado da realidade paralela em que o esquizofrênico mergulha. Em homens com predisposição genética, a esquizofrenia costuma se desenvolver entre os 20 e 25 anos, muitas vezes desencadeada por um evento traumático.

“No caso dele, a morte da mãe ou até mesmo a perda do emprego podem ter iniciado esse processo”,explica Teixeira.

Ainda não está claro se Wellington havia sofrido perseguições quando era aluno da escola e, portanto,não é possível afirmar se a escolha do local teve essa motivação.

No entanto,confirmada essa hipótese o psicanalista acredita que ele pode ter canalizado a loucura para o local pelo qual sentia raiva, sem se importar que ali estudavam crianças que nada tinham a ver com os constrangimentos que ele possa ter sofrido. Outro aspecto da frieza demonstrada por Wellington foi a escolha por vitimar principalmente as meninas – elas foram 10 entre os 12 mortos e 10 entre os 13 feridos.

Os tiros foram à queima-roupa, na região da cabeça. Teixeira também aponta questões ligadas à sexualidade como um conflito recorrente entre os esquizofrênicos.

Segurança
Um caso como esse rompe com qualquer padrão de normalidade, mesmo aquele próprio da lógica do crime que assusta cotidianamente os cariocas e brasileiros de outras cidades, o que torna a prevenção muito difícil. “As condições psicológicas e clínicas de quem cometeu esse crime são muito excepcionais. Esse foi o primeiro episódio dessa natureza no País.

É muito difícil dizer que algum tipo de sistema de segurança o evitaria. Mas é claro que as escolas, apesar de serem espaços que precisam ser abertos à comunidade, devem ter algum tipo de segurança”,afirma Aldo Fornazieri, coordenador do curso de pós-graduação em Gestão de Segurança Pública da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo.

Já o psicanalista Teixeira acredita que a melhor prevenção é o reconhecimento da patologia e seu tratamento adequado. “Infelizmente, fatalidades como esta podem acontecer, e por isso a família e a comunidade têm de estar presentes e atentas para que a pessoa receba tratamento adequado. O doente não percebe sua patologia. Todas as alucinações, angústias e exageros são vistos como normais. São as outras pessoas que precisam fazer alguma coisa.” Nada pode ser feito por Wellington ou pelas vítimas dele, mas é preciso impedir que
esse tipo de crime se torne parte de nossas rotinas.

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